"Há um debate intermitente e interminável entre historiadores, sociólogos e antropólogos sobre o papel dos indivíduos no curso da história. Os subjetivistas e liberais tendem a acentuar a centralidade das ações individuais como forças motrizes do processo histórico. O indivíduo - dizem - tem liberdade para construir sua própria trajetória e pode "fazer a história". No extremo oposto, os deterministas superestimam o peso das estruturas econômicas, sociais e culturais aos quais os indivíduos estão submetidos. Para eles, a ideia de liberdade individual é um mito e o que importa realmente são os grandes sistemas e movimentos coletivos. Os homens não fazem a história, apenas a seguem passivamente. Alguns chegam a negar a própria existência do indivíduo como entidade concreta autocentrada e autoconsciente.
Uma terceira corrente indica outra hipótese: sugere que mesmo os sistemas mais fechados e as condições estruturais mais determinantes deixam aberturas, falhas, contradições, por entre as quais certos indivíduos podem construir caminhos alternativos, produzir deslocamentos e interferir no desenrolar e na direção dos acontecimentos, antecipando tendências futuras e dotando a história de uma dose de imprevisibilidade. São homens e mulheres que teimam em "remar contra a maré", e contrariar a "voz da razão", agindo instintiva e emocionalmente, desafiando as adversidades mais duras, que, em geral, imporiam resignação e conformismo.
Exemplos? Há vários. Algum político mais "ponderado" e "racional", que ocupasse o cargo de primeiro-ministro da Grã-Bretanha, em luta solitária contra as potências do Eixo e tendo suas cidades constantemente bombardeadas na fase inicial da Segunda Guerra Mundial, tomaria outra decisão a não ser a de se render? Winston Churchill não o fez. E sua determinada, teimosa e, para muitos, irracional resistência a Hitler ajudou a alterar os rumos do conflito e, provavelmente, da história do século XX. E, para citar outro exemplo, o que dizer de Ludwig Van Beethoven que enfrentou suas próprias limitações físicas para escrever um dos capítulos mais geniais da história da música universal em todos os tempos? São homens visionários, vanguardistas, mediadores de utopias e de desejos. Alguns, quando instantaneamente aclamados, tornam-se ícones do seu tempo. Outros recebem o reconhecimento tardio, quando seus feitos são "exumados" por historiadores e memorialistas. A maioria, infelizmente, cai no imerecido esquecimento.
Todo este prólogo masturbativo tem por objetivo homenagear um destes "derrubadores de muros". Não um ícone qualquer ou um personagem da história mundial, mas um desbravador da cultura jovem valenciana: o músico Renato Nunes. o "Renatinho do Delta Mood". O "Renatinho do Jazz & Blues". Ou, simplesmente, Renatinho.
E por que homenageá-lo?
Porque hoje há uma cena rocker em Valença de fazer inveja a outras cidades de mesmo porte e até a centros maiores. Uma cena que oferece condições para que The Black Bullets realize concertos magistrais como o Tributo ao Pink Floyd e já o exporte para outras praças. Que permite à banda Hipnotize gravar um belo CD de inéditas e já estar a meio caminho do segundo. Que assiste à proliferação de bandas formadas por jovens músicos de talento precoce como Celeiro das Rochas, Sotton, Vermillion Theory, etc. Que superlota a agenda dos mestres Pinheiro, Marcus Prado, Fred e outros com meninos e meninas ávidos por caírem na estrada do rock'n'roll. Que enche de gente o Pesqueiro do Vitinho quase toda sexta-feira e estimula outras casas, como o Clube dos Coroados, a abrirem espaço para os músicos de rock, para deleite dos amantes do gênero que, agora, praticamente não passam um final de semana sem uma atração que os satisfaça. Que obriga os organizadores do festival da Associação Balbina Fonseca a criarem uma categoria exclusiva para bandas.
Pois bem, por mais que nossas consciências sejam imediatistas e desmemoriadas, é forçoso - e saudável - reconhecer que esta cena não nasceu hoje e não surgiu do nada. Há uma história por trás dela. E o pioneiro desta história é Renatinho. Não admitir isto seria o equivalente a pensar que o Oasis inventou o rock britânico ou que o Guns and Roses é o pai do Heavy Metal. Talvez nem o próprio Renato tenha consciência do seu pioneirismo, porque muitas vezes os vanguardistas agem movidos por paixões e não pela razão. Foi sua paixão pela música de Eric Clapton e companhia que o fez ter a mais de dez anos a ousadia de criar, aqui neste sertão provinciano, conservador e esquecido do mundo, uma banda de blues, de puro blues: a lendária Delta Mood. Quantos ouvidos valencianos foram apresentados ao som de Muddy Waters, Robert Johnson, B.B. King, etc, graças a esta iniciativa. Comparativamente, podemos dizer que Renato é o nosso John Mayall, um dos fundadores, ao lado de Alexis Korner, da escola britânica de blues da qual emergiram Clapton, Jack Bruce, Peter Green, Mick Taylor e tantos outros músicos que viriam a integrar bandas clássicas como Cream, Fleetwood Mac, The Rolling Stones, etc..
Renato também envolveu-se em outros projetos musicais, como o Som da Serra, e pôs seu baixo à serviço de outras bandas valencianas, dentre elas, The Black Bullets e Aríete. Hoje, além de formar, com Cíbila e Vandré, um trio de MPB e pop rock, Renatinho deu vida a "Os Cara Velho", um quarteto de rock bluesístico à moda antiga, sem rodeios, com cheiro de poeira de estrada. O velho e bom rock'n'roll, etilo southern, de fins dos 60 e início dos 70. Estão lá Cream, Creedence Clearwater Revival, Neil Young, ZZ Top, Gov't Mule, Deep Purple, The Allman Brothers Band e muito mais. E coisas que jamais ouvi alguém tocar em Valença, tipo The Band e Crosby, Stills, Nash & Young. Renato e seus companheiros de banda voltam às raízes para inovar. E que companheiros!!! Rodrigo Dment enfia a mão pesada no couro sem dó. Marcelo Monte tem aquele vozeirão de bluesman sulista. E Léo Cadinelli, o único "Cara Novo", é daqueles guitarristas classudos, estilão british blues. Haja coluna vertebral.
Renato também envolveu-se em outros projetos musicais, como o Som da Serra, e pôs seu baixo à serviço de outras bandas valencianas, dentre elas, The Black Bullets e Aríete. Hoje, além de formar, com Cíbila e Vandré, um trio de MPB e pop rock, Renatinho deu vida a "Os Cara Velho", um quarteto de rock bluesístico à moda antiga, sem rodeios, com cheiro de poeira de estrada. O velho e bom rock'n'roll, etilo southern, de fins dos 60 e início dos 70. Estão lá Cream, Creedence Clearwater Revival, Neil Young, ZZ Top, Gov't Mule, Deep Purple, The Allman Brothers Band e muito mais. E coisas que jamais ouvi alguém tocar em Valença, tipo The Band e Crosby, Stills, Nash & Young. Renato e seus companheiros de banda voltam às raízes para inovar. E que companheiros!!! Rodrigo Dment enfia a mão pesada no couro sem dó. Marcelo Monte tem aquele vozeirão de bluesman sulista. E Léo Cadinelli, o único "Cara Novo", é daqueles guitarristas classudos, estilão british blues. Haja coluna vertebral.
Achei muito justa a homenagem feita ao meu amigo e ídolo Renatinho, e com o concentimento do grandioso Professor Alexandre, copiei o post feito por ele, pra homenagear um dos ícones do rock de Valença, não poderia existir texto melhor para homenagea-lo.
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